Filha de soldado nazista foi entrevistada por alunos; inicialmente, órgão negou se tratar de apologia
A deputada federal Carol Dartora (PT-PR) usou suas redes sociais para denunciar apologia ao nazismo em uma escola estadual de Arapongas (PR). Nas imagens compartilhadas pela parlamentar aparecem jovens com suásticas e um manequim que imita o ditador Adolf Hitler. Em nota enviada ao GLOBO, a Secretaria da Educação do Paraná (SEED-PR) disse que irá apurar o caso.
"O trabalho buscou fazer uma reflexão sobre o evento histórico e suas consequências.Desde já, a SEED ressalta que se posiciona veementemente contra qualquer ato que possa fazer apologia ao nazismo dentro das escolas. A Secretaria voltará a se manifestar assim que o levantamento for concluído", disse ainda o órgão.
Em uma das imagens que viralizaram nas redes, dois jovens de roupas pretas aparecem ao lado de um manequim com um bigode que remete ao de Hitler. Faixas vermelhas com suásticas estão ao redor da cena. Em outra foto, um jovem está usando um boné com uma suástica desenhada.
As postagens foram feitas na última sexta-feira, mas acabaram deletadas das páginas do Colégio Estadual Marquês de Caravelas. A publicação foi curtida pelo Núcleo Regional de Educação de Apucarana.
Estudante no Paraná usa boné com suástica em apresentação de trabalho — Foto: Reprodução
Os alunos do 3º ano teriam sido divididos em grupos, cada um responsável por um tema relativo ao conflito, incluindo o nazismo em si, mas também o Holocausto. As imagens divulgadas pela parlamentar seriam correspondentes ao do grupo a que coube discorrer sobre o regime de Hitler.
Inicialmente, em uma primeira nota, a Secretaria de Educação do Paraná negou que se tratava de apologia, mas "uma tentativa de detalhar os horrores da Segunda Guerra Mundial para que tais eventos sombrios nunca mais se repitam". Posteriormente, afirmou que o caso seria apurado.
"O NRE de Apucarana curtiu a publicação, não por fazer apologia ao Nazismo, mas por acreditar que a educação é uma ferramenta poderosa para prevenir a repetição de tragédias como o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial", disse a secretaria nesta primeira nota.
De acordo com publicações ainda no ar no perfil do Colégio Estadual Marquês de Caravelas, as atividades do projeto incluiram ainda uma visita e entrevista com Relinda Kronemberg, filha de um soldado nazista e moradora de Rôlandia (PR). O depoimento foi gravado e seria exibido na escola:
"Ele (pai de Relinda) foi preso pelos soviéticos em 1944 e mesmo depois que terminou a guerra continuou preso nos campos de trabalho forçado na URSS. Depois de muito sofrimento, veio a ser trocado por soldados soviéticos com a Alemanha (...) Uma belíssima e forte experiência para esses alunos e certamente irá tocar os corações de todos que assistirem entrevista", diz a publicação do dia 13 de setembro.
Trechos da entrevista estão disponíveis no Instagram do colégio. Na gravação, Relinda Kronemberg é questionada se teve contato com algum judeu durante seus anos na Alemanha, após a entrevistadora relembrar casos de alemães que ajudaram vítimas do holocausto:
— Tinha uma mulher responsável pela nossa comunidade lá. Eu também trabalhei 2, 3 anos, ajudando na tradição luterana. Mas, dentro de mim, foi diferente. É um pouco difícil de explicar para vocês. Cada pessoa tem uma obrigação, o dever, de manter a nossa terra, o nosso solo. Para mim, isso é o que eu quero, o que eu preciso — diz Relinda, que se refere ao pai como "um bom alemão, mas também um nazista".
A Polícia Civil do Paraná e o Ministério Público do estado foram procurados, mas não se manifestaram até o momento.
Fonte: O GLOBO
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