Por causa dos incêndios, a capital amazonense teve registro de um dos piores índices de qualidade do ar no mundo

Pelo segundo dia seguido, Manaus amanheceu sob fumaça, nesta quinta (12). O efeito das fortes queimadas na região é motivo de preocupação e colocou a capital do Amazonas entre as cidades com pior qualidade de ar no mundo, de acordo com monitoramento da plataforma World Air Quality Index. Somente nos 12 primeiros dias de outubro, foram registrados 2704 focos de queimada no estado, o segundo maior do país (atrás do Pará), e um número 148% maior do que houve no mesmo período do ano passado.

Nas redes sociais, moradores relatam até a dificuldade de conseguirem enxergar o que está a poucos metros de distância nas ruas, devido à quantidade de fumaça. Na tarde de quarta, o prefeito de Manaus, David Almeida, anunciou medidas de combate a incêndios, que acontecem majoritariamente no interior e na Região Metropolitana da capital.

Os 2704 focos de incêndio registrados no Amazonas já são um recorde para outubro, mesmo com menos da metade do mês. Desde o início da série histórica, em 1988, nunca houve tantas queimadas em um período do dia 1º ao dia 31 de outubro. No ano passado, foram 1.503 queimadas no mês inteiro, quantidade 80% menor do que foi visto somente em 12 dias agora.

De acordo com o sistema do Inpe, dos 2704 focos, 344 (12%) ocorreram em Lábrea, uma das cidades campeãs de desmatamento no país. Cidades da Região Metropolitana de Manaus, como Autazes e Careiro também estão com altos registros de incêndios: 236 e 133, respectivamente. Somente na última terça (10), houve mais de 500 queimadas no estado, quando o problema se acentuou e os efeitos começaram a chegar à capital.

Setembro já havia sido um mês muito quente no Amazonas, que enfrenta uma seca extrema que atinge quase toda a região amazônica. A situação levou o governador Wilson Lima a decretar situação de emergência. No mês passado, houve 6991 focos de queimada no estado.

Nesta semana, o fogo atingiu a Terra Indígena Guapenu, que fica em Autazes, onde vivem o povo Mura. Na quarta, a plataforma World Air Quality Index mostrou que Manaus chegou a um índice de 499 materiais particulados por metro cúbico no ar. A partir de 300, o valor é considerado "perigoso" pela escala de qualidade do ar, por causa dos potenciais danos à saúde. Esse índice de quarta foi o maior do continente e um dos mais altos do mundo.

Por causa da situação, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) suspenderam as aulas. Nesta quinta, os índices de qualidade do ar continuam perigosos, oscilando entre 430 e 450 na cidade, pela medição da plataforma.

No X (antigo Twitter), manauras compartilharam em massa conteúdos denunciando o problema, com a hashtag #Manausquerrespirar. Moradora da cidade, Beniza Maíra Furtado publicou um vídeo aos prantos, pedindo ajuda e citando os riscos à saúde de seu filho, que tem problema respiratórios.

— Não consigo falar, não consigo respirar, é desesperador. Não consigo ver a cidade desse jeito e ninguém fazendo nada, é desesperador de verdade. Meu filho mais velho tem problemas respiratórios, estou sem o que fazer — afirmou ela, chorando, no vídeo, com a legenda "Amazonas pede socorro, seca e muita fumaça, estamos morrendo sufocados".

Ibama diz que queimadas são causadas por agropecuaristas

Na tarde de quarta, o prefeito David Almeida afirmou que a fumaça tem origem de incêndios fora da capital, mas defendeu a criação de medidas de mitigação, como ações de conscientização e programa de agricultura familiar sem queimadas.

— Nós estamos nesse momento difícil sofrendo com relação a essa fumaça densa que está sobre a nossa cidade, produzida no interior do estado. De 6.992 focos de incêndio captados pelo Inpe em setembro, 99,6% são provenientes do interior. Estou em contato com a presidente da Associação dos Municípios, e nós vamos captar recursos do Fundo Amazônia para que, juntamente com outros municípios da região metropolitana, possamos implementar a agricultura familiar sem queimadas — disse o prefeito.

Ao G1, o superintendente o Ibama no Amazonas, Joel Araújo, afirmou que os incêndios são causados por agropecuaristas.

— O Ibama tem 45 brigadistas atuando em um grande incêndio ambiental, o maior da região, no município do Careiro, na tentativa de diminuir essa fumaça, que está sendo carregada de lá para a cidade de Manaus — explicou.

A "onda de fumaça" que encobre Manaus está vindo dos municípios do Careiro e Autazes e é causada por agropecuaristas. A informação é do Superintendente do Ibama no Amazonas, Joel Araújo, e foi dada nesta quarta-feira (11).


Fonte: O GLOBO