Casos de Bahia, Botafogo e Sport chamaram a atenção nas rodadas iniciais dos torneios locais espalhados pelo país
Nos últimos anos, os Campeonatos Estaduais fizeram o papel de minar trabalhos de técnicos logo no início da temporada, evidenciando o pavio curto de cartolas e torcedores. Na largada de 2024, essa intemperança tem se mostrado ainda mais intensa, como revelam as vaias a atletas ainda nos primeiros jogos do ano.
O Botafogo — que hoje encara o Bangu, às 16h, no Nilton Santos, pelo Carioca — estreou contra o Madureira e teve alguns jogadores vaiados já no aquecimento, casos de Marlon Freitas e Marçal. Nenhum deles fez algo novo: estavam sendo criticados ainda em decorrência da derrocada histórica do alvinegro no returno do Brasileirão do ano passado. Os menos de dois meses que separaram o fim da Série A e o início do Estadual não foram suficientes para a virada de página no alvinegro.
Problema espalhado
A irritação precoce não é uma exclusividade do Botafogo. No Pernambucano, o treinador argentino Mariano Soso ouviu, ainda em sua segunda partida à frente do Sport, gritos de “burro” vindos da arquibancada durante a derrota por 4 a 2 para o Retrô Clube. Os xingamentos a ele e aos atletas são uma sequela da falha do Leão da Ilha em conquistar o acesso para a Série A na temporada passada. Soso sequer estava no clube.
— O torcedor é naturalmente passional e quer ver sempre o time vencer, independentemente de ser o primeiro ou o último jogo. Então, reencontrar o time, ter boas expectativas e vê-lo com dificuldades contra adversários, na teoria, de caráter inferior, é algo que o frustra e fomenta essa intolerância — avalia Yuri Romão, presidente do Sport, em entrevista ao GLOBO.
Não muito longe dali, em Salvador, um time alternativo do Bahia foi vaiado pela torcida ao estrear no Estadual com derrota por 1 a 0 para o Jequié na Arena Fonte Nova (o grupo principal está na Inglaterra, onde faz a pré-temporada nas instalações do Manchester City).
Um dos mais hostilizados pelo torcedor tricolor, o meio-campista Diego Rosa, de apenas 21 anos, chegou a declarar em suas redes sociais que aquele teria sido seu último jogo na carreira. Todos esses acontecimentos jogam luz sobre uma questão que parece intrínseca ao futebol brasileiro: o que leva a uma frustração tão profunda no modo de torcer?
— Até hoje, quando um atleta se transfere de um clube para o outro, lemos e ouvimos que ele foi “vendido”, como eram os escravos. Não se trata de uma forma mais fácil de fazer referência à mudança de clube, mas de um resquício, de longo prazo, escravocrata, e de um, mais recente, do chamado “passe”, que impedia um atleta de defender outro clube, livremente, ao fim do seu contrato. Para muitos torcedores, o atleta segue sendo alguém que deve servi-lo e satisfazê-lo, não somente com trabalho e esforço, mas com resultados positivos sempre, ignorando o adversário — analisa Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports, que controla e gerencia carreiras de atletas.
O presidente do Sport faz coro e destaca o peso negativo das redes sociais:
— Elas contribuem, em parte, para isso. É um ambiente em que muitas pessoas ficam no anonimato e mostram-se despudoradas de atacar outras. Isso acaba contaminando outros torcedores, algo que amplifica a crítica ou o xingamento.
Esse tipo de comportamento pode, inclusive, ter consequências contrárias ao objetivo de quem vaia ou xinga. Em vez de o time ou de um atleta subir de produção por conta das críticas, seu desempenho pode ruir em razão do mal-estar psicológico causado.
Por outro lado, casos como o de Diego Rosa, de reação extrema, expõem a falta de ferramentas para lidar com o cenário adverso.
— Estresse no contexto esportivo é um desequilíbrio entre demandas ambientais e a capacidade de resposta dos atletas. Podemos considerar o comportamento da torcida como uma demanda, já o fato de o jogador revelar que desistirá da carreira mostra falha no enfrentamento — explica André Luis Aroni, psicólogo do Guarani-SP e mestre em treinamento esportivo. — No entanto, mais calmo e orientado no dia seguinte, sua resposta pareceu equilibrada.
Rosa usou as redes sociais para indicar que seguirá na carreira e no clube. “Quero agradecer a toda nação tricolor pelo apoio nesse momento. Retribuirei dentro de campo com muita garra, vontade e raça”, postou.
Marçal pode ser titular
No Botafogo, o técnico Tiago Nunes prometeu fazer alterações na equipe em relação à que enfrentou o Madureira. Marçal, que iniciou o jogo no banco de reservas, pode ganhar uma oportunidade no time titular.
Enquanto isso, nos bastidores, o alvinegro tenta destravar a situação de Manafá. O clube chegou a anunciá-lo como reforço após assinar um contrato enviado para o Granada, mas não recebeu a papelada firmada de volta. Agora, os espanhóis pedem uma compensação financeira maior pelo lateral. O Botafogo descarta.
Fonte: O GLOBO
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