Executivo de um dos principais fabricantes de notebooks do mundo prevê alta nas vendas com a popularização da IA, que vai demandar máquinas mais potentes. Empresa prepara assinatura de hardware
E o foco no país não é à toa. Segundo ele, o Brasil é o quarto maior consumidor de tecnologia do mundo, atrás de EUA, China e Índia. A chegada da inteligência artificial (IA) no segmento de laptops vai ajudar o setor a crescer 10% este ano, após um momento de estagnação nas vendas, ele prevê, mas ressalta que os novos recursos estarão concentrados nos modelos premium, mais caros.
Para recuperar de maneira mais firme as vendas de eletrônicos, só com a queda mais forte dos juros para baratear o crédito, acredita, já que o computador é um típico bem que o brasileiro compra parcelado.
Após a pandemia, quais são as perspectivas para o mercado de computação pessoal?
O pós-pandemia voltou a ressaltar a importância da mobilidade na área de tecnologia. Antes, estava muito ligada ao smartphone. Mas aí todo mundo descobriu que trabalhar algumas horas no celular não é sustentável. Na virada de 2022, começamos a sentir uma desaceleração no mercado de laptops. Em 2024, o mercado deve se estabilizar. Em valor, deve crescer cerca de 10%, pois o consumidor está migrando para modelos mais robustos, com maior performance. Hoje o modelo de entrada não é o mais comercializado no Brasil. Os produtos que mais vendem custam entre R$ 2.499 e 3.499.
Quais são os esforços que a companhia tem feito para alavancar as vendas de notebooks?
O pilar que vai ser disruptivo é o lançamento no meio deste ano da versão nova do Windows com o Copilot (assistente de IA da Microsoft com tecnologia da OpenAI, criadora do ChatGPT). A partir disso, haverá um sistema operacional com mais requisitos, e máquinas com dois ou três anos não vão rodar todas as funcionalidades de IA que o software permite, pois vão depender de um processador mais aprimorado. A partir deste ano não vamos mais falar apenas de performance do chip. Vamos falar da capacidade de inteligência artificial.
Qual é o desafio para a indústria?
O desafio tanto da indústria de hardware quando da de software é ter inteligência artificial no computador sem estar conectado à internet. Isso vai atingir o pico já em 2026. Você vai ter 90% das funcionalidades de IA sem estar conectado, pois terá um chip rodando IA. A tendência nos próximos anos é ter uma renovação no parque de computadores.
A indústria está convergindo para entregar essas soluções. Agora estamos na fase de saber como perguntar ao assistente virtual e ser preciso na formulação de questionamentos. Os produtos passarão a ter mais microfones para captar comando de forma mais precisa. Haverá tecla específica para acessar o Copilot.
Estamos ainda aumentando a definição de câmera e criando baterias com maior durabilidade. O que a gente tenta fazer é facilitar a vida do consumidor. O desafio é transformar a tecnologia em um formato amigável.
Germano Couy /general manager da Acer na América Latina — Foto: Divulgação
A IA vai estar apenas nos modelos mais caros?
Nesse primeiro momento no Brasil a IA está disponível para uma linha premium. Para 2025, ela vai descer a um nível médio. No ano que vem vai baixar o preço, mas, mesmo assim, vai ficar um pouco mais alto em relação ao preço atual. Em 2026, 70% dos equipamentos vão ter recursos de IA.
Mas a Acer quer ir além de notebooks? Há lançamentos previstos em outras categorias ?
Estamos trazendo para o Brasil esse ano roteadores de olho na casa conectada e no público gamer, com o objetivo de reduzir a latência (tempo de resposta aos comandos). A gente está estudando no Brasil scooters, patinetes e bicicletas elétricas. Vamos ver se a gente vai trazer ou não essa linha de produtos, que é mais premium também.
A gente teria que estudar fabricar localmente, e por isso seria algo mais para 2025. Alguns países estão com produtos como purificadores de ar e de água. De forma geral há ainda uma tendência de carbono zero até 2050. Temos mais de 30% de plástico reciclável no computador. A vida daqui para frente tem que ser com menos produtos que agridam o meio ambiente.
Mas a estratégia envolve apenas o lançamento de produtos?
Estamos desenvolvendo para o Brasil o conceito do hardware as a service, que é o pagamento de serviço para ter máquinas em 100% do tempo em vez de precisar comprar. É como se fosse um aluguel. Uma escola, por exemplo, aluga um notebook por R$ 99 por mês. E a manutenção é comigo.
E vejo isso como uma tendência até para o usuário. Hoje estamos focados para médias e grandes empresas. No futuro, você não vai mais comprar computador. Em dois ou três anos, você vai alugar e depois troca.
E como estão as vendas dos notebooks ‘gamers’?
É uma das principais verticais da companhia. A categoria representa 10% do total de mercado. Tem espaço para dobrar nos próximos três anos. E vamos acompanhar isso. Hoje, temos 60% de market share (fatia de mercado) na categoria.
Esse mercado gamer não cai porque chega um momento em que o console esgota as possibilidades para alguns jogos. Nesse caso, você precisa de performance para rodar. A troca é feita a cada dois anos. Em geral, as pessoas ficam de três a cinco anos ou até mais. E os notebooks gamers têm sido usados não só por jogadores.
E por que tem esse potencial?
Há uma busca para poder ter melhores experiências. E criamos um notebook gamer discreto e metálico, pois descobrimos um segmento de executivos e de profissionais liberais que queriam ter uma máquina gamer para levar para o trabalho. São modelos finos e com performance.
A pessoa durante o dia é um executivo e de noite vira um gamer. Embora seja um público que não tem problema de poder aquisitivo, a gente tem dificuldade, pela própria dinâmica do mercado brasileiro, de trazer todos os lançamentos ao mesmo tempo, embora 95% do nosso portfólio seja fabricado no Brasil, através de parcerias com a Foxconn e a Compal, em São Paulo e Manaus.
Por que há essa dificuldade?
O que tem no Brasil é mais um atraso industrial, que oscila de quatro a seis meses, pois as peças e as partes do produto vêm pelo mar para começar a fabricação. Mas o Brasil tem prioridade. O país é o quarto maior consumidor de tecnologia do mundo, atrás de EUA, China e Índia. O Brasil está no top 10 de países prioritários para a companhia.
Estamos investindo em produtos, pessoal e inovação no Brasil, onde a companhia acredita bastante, e a gente espera crescer. Por outro lado, o país não consome produtos de alto valor agregado como Europa e EUA. É um ticket mais baixo por conta de renda, de financiamento, de taxa de juros. É um problema econômico.
E quais os principais desafios do ponto de vista da macroeconomia?
A taxa de juros é um desafio porque o brasileiro tem o hábito de comprar muitas vezes parcelado. É difícil comprar à vista. A venda parcelada tem uma fatia muito importante do consumo no Brasil hoje. À medida que você tem juros mais baixos e uma inflação mais controlada, o consumidor vai ter um grau de confiança para gastar um pouco mais.
Fonte: O GLOBO
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