Em entrevista, Carlos Siqueira afirma que vê com preocupação os rumos tomados pelo governo federal
Lula comparou a atuação de Israel na guerra ao Holocausto, além de pressionar Petrobras e Vale. A postura enfraquece uma frente ampla para 2026?
Nós avaliamos o governo do presidente Lula com várias ações positivas. Há uma tentativa de retomada da normalidade democrática, mas não estamos em uma situação tão normal. O bolsonarismo tem demonstrado muita capacidade de mobilização e de vitalidade, lamentavelmente. Formou-se uma frente (que apoiou Lula), e eu esperava que estivesse mais consolidada ao longo do governo. A declaração que diz respeito a Israel, eu disse que foi desastrosa e continuo a achar que foi. Não há, nem de longe, uma comparação possível com o nazismo.
O presidente também errou em outras declarações?
Recentemente, uma crítica que pegou muito mal foi à oposição na Venezuela. Na verdade, ela deveria ser ao (Nicolás) Maduro, que tenta controlar uma eleição que obviamente não parece democrática. Não é muito justificável a ausência da deputada María Corina na disputa. A defesa da Venezuela, cujo retrato mais contundente são os pedintes no semáforo de todo o país, não é um bom discurso. É um regime indefensável. Devemos buscar a unidade em torno de um projeto nacional de desenvolvimento.
Isso pode dar força para o bolsonarismo?
Não sei o resultado que vai produzir, mas não me parece bom. As próprias pesquisas de opinião já apontaram um pouco nessa direção, e (o impacto) foi muito rápido. Eu lamentei muito, porque apoiamos o governo e queremos continuar apoiando. Temos o vice-presidente, que está fazendo um bom trabalho.
Como vê a posição do presidente Lula sobre a Petrobras e a Vale?
Tanto a Vale como a Petrobras, hoje, têm uma grande presença de acionistas privados. Elas têm regras próprias, que devem ser rigorosamente obedecidas. Se isso não acontecer, você gera desconfiança do mercado sobre os rumos da economia e sobre os rumos do país do ponto de vista econômico. Não sei se foi correto que se permitisse tanta gente (como acionista) na Petrobras, mas o fato é que hoje existe um grande número de investidores nacionais e internacionais. É preciso segurança jurídica. Essa repercussão não foi boa.
São esses motivos para a frente ampla não estar consolidada?
O governo, de modo geral, tem acertado muito. Mas eu faço uma reflexão: nós não retornamos 100% a uma democracia minimamente sólida. O desgaste que houve (com Bolsonaro), o número de partidos, a forma como o Parlamento passou a funcionar, executando uma parte significativa do Orçamento... Tudo isso impede planos de médio e longo prazo.
O PT menospreza o bolsonarismo?
Tenho convivido muito com a direção do PT, tenho muito boa relação com a presidente (Gleisi Hoffmann). Não vejo esse descuido. O que temos é uma conjuntura ruim, não é uma questão do PT, é muito mais grave e mais ampla. A América Latina toda está coberta por partidos de extrema direita, como na Argentina. Há o (Donald) Trump. Aqui, há uma mudança no perfil do eleitorado, que ecoa as posições mais conservadoras da sociedade sobre a questão de valores, que se apresentou muito forte eleitoralmente e continua se consolidando.
O senhor vê no governo disposição em mudar com a queda de popularidade?
O que eu percebo, do resultado das pesquisas, é que gerou uma preocupação. Essa preocupação é justa, necessária e correta. Agora, se vai mudar alguma coisa ou não, aí só as pessoas do governo podem dizer.
Bolsonaro tem força para lançar um candidato que derrote Lula em 2026?
Eu espero que não. Não podemos subestimar o que estamos vendo acontecer na democracia brasileira.
O PSB apoiará Lula em 2026?
O PSB não quer tratar desse assunto agora, não vai dizer que apoia nem que não apoia. A gente fala demais sobre eleições quando devíamos falar dos problemas do país, que são graves.
Quais são os principais acertos do governo?
Faço uma avaliação muito positiva na área econômica, tirando essas declarações (de Lula). Acho que o (ministro da Fazenda) Fernando Haddad é uma surpresa boa. Outra é o vice-presidente Geraldo Alckmin. A política de indústria, comércio e serviços. Voltamos para a discussão, que está no nosso programa, da competitividade da indústria, da modernização da indústria.
Como está o planejamento para as eleições municipais?
Nós temos 937 pré-candidatos em diferentes regiões, mas não é o número definitivo. Temos pelo menos 11 candidaturas em capitais. Dessas capitais, tem cinco que julgamos mais competitivas. Em Curitiba (Luciano Ducci), em São Paulo (Tabata Amaral), Recife (João Campos), São Luís (Duarte Júnior) e Palmas (Carlos Amastha). Obviamente, temos conversas com outros partidos, tanto de esquerda, quanto de centro, para fortalecer as nossas candidaturas.
Fonte: O GLOBO
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