Legenda teme que demora a tomar decisão provoque a perda de espaços importantes na Casa

Porto Velho, RO - Em uma mudança de rota, o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, já cogita abdicar da candidatura própria à presidência da Câmara e analisa internamente declarar apoio ao candidato de Arthur Lira (PP-AL) para a sucessão. A possível composição já é debatida, pois a cúpula da sigla teme perder espaços importantes na Casa.

Em meio à antecipação da campanha, o presidente da legenda bolsonarista, Valdemar da Costa Neto, defendia a ideia de lançar candidato próprio no primeiro turno da eleição, se tornando assim uma espécie de "fiel da balança" no segundo turno. Mas a inclinação de Valdemar e de outros integrantes do PL mudou.

A ideia é ter condições de articular bons postos na Mesa Diretora. Contribui para a negociação o fato de Lira ter favorecido o PL a assumir importantes colegiados da Casa neste ano, como a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), com a deputada Caroline de Toni (PL-SC), e as comissões de Educação e Segurança, com Nikolas Ferreira (PL-MG) e Alberto Fraga (PL-DF), respectivamente.

A disposição do atual presidente da Câmara fez com que Valdemar emitisse ao partido o aviso de que uma composição pode ser concretizada.

O aliado mais próximo do presidente da Câmara e líder do União Brasil na Casa, Elmar Nascimento (União-BA), no entanto, não tem a simpatia de Valdemar. Já Marcos Pereira (Republicanos-SP), que também espera ter o apoio de Lira, precisaria aparar arestas de desentendimentos que teve com Bolsonaro nos últimos anos.

Com os dois caciques do PL impedidos de ter contato por decisão judicial, este impasse se tornou ainda mais difícil de ser solucionado. Tanto Valdemar quanto Bolsonaro são investigados pela tentativa de golpe de Estado, e foram alvos de medidas cautelares pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Busca por apoios

Cientes da necessidade de contar com o apoio dos bolsonaristas, tanto Elmar quanto Pereira já fizeram acenos relevantes: Pereira fez contato com interlocutores de Bolsonaro no último mês e pediu um café entre eles. Até o momento, o ex-presidente não acenou de maneira positiva e vê com desconfianças a sua proximidade com os governistas.

Neste momento, no PL, há resistências pela atuação religiosa do deputado e presidente do Republicanos. Pereira é bispo licenciado da Igreja Universal, enquanto a maior parte do bloco evangélico da sigla de Bolsonaro é da Assembleia de Deus.

Já a relação entre Valdemar e Elmar foi minada pela dificuldade de diálogos entre o PL e União Brasil durante algumas votações no Congresso. O partido, que possui três indicações para os ministérios de Luiz Inácio Lula da Silva, acumula votos de acordo com os interesses do governo.

Embora haja atritos, há chance para a abertura do diálogo com o parlamentar do União. Da mesma forma que o PL "baixou a guarda" em razão dos gestos de Lira, Elmar também tem emitido sinais para ser recompensado.

O deputado do União participou, por exemplo, das negociações para a divisão entre as comissões e fez concessões ao PL. Ao abrir mão da Comissão de Segurança, Elmar permitiu que um acordo fosse firmado para que Fraga, um bolsonarista, presidisse um dos colegiados mais caros ao eleitorado do ex-presidente. De olho no cenário político, a concessão desta comissão teria sido feita pelo União por recomendação de Lira.

Apontado como favorito para representar o partido na disputa, caso um bolsonarista seja lançado, o líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ), diz que a legenda seguirá as orientações de Bolsonaro. Ele evitar dizer que é um nome possível para a disputa.

— O PL, pelo tamanho da sua bancada, com 96 deputados, será decisivo nesta eleição e teremos o melhor candidato que possa representar a relevância do partido. O nome ainda está sendo avaliado internamente, mas Bolsonaro e Valdemar terão sabedoria para fazer esta escolha — diz, sem se comprometer.

A mudança de posicionamento de Valdemar arrefece as buscas por um candidato do PL à presidência da Câmara. Anteriormente, o presidente do partido havia designado o deputado Luiz Felipe de Orleans e Bragança (RJ) para coordenar os trabalhos de escolha.

Outros dois cotados à presidência, Antonio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL) não são nem citados como possíveis nomes para a composição. Ambos são vistos como parlamentares mais próximos ao governo Lula.


Fonte: O GLOBO