Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, concede entrevista ao GLOBO — Foto: Maria Isabel Oliveira/Agência O Globo
Ambos estão dizendo que o Banco Central se deixou livre para decidir se aumentará ou não os juros na próxima reunião. Ou seja, na língua do mercado, não há “forward guidance”, isto é, indicação do que está por vir. Há uma dúvida na diretoria sobre o balanço de riscos e a conjuntura está mudando rapidamente.
Ontem mesmo saiu o dado de revisão anual do indicador mais importante do mercado de trabalho americano, o “payroll”. Foi feita uma revisão de 800 mil empregos para baixo. Ou seja, foram criados menos 800 mil empregos do que se pensava. O enorme ajuste eleva a aposta na queda de juros nos Estados Unidos em setembro. No Brasil, a utilização da capacidade instalada da indústria está no nível mais alto em uma década. Os números se movem e a decisão de juros será daqui a quase um mês.
A vida de Banco Central é ficar entre fogos. Da política ou do mercado. Operadores esquadrinham cada palavra para fazer suas posições e preços. Políticos acham um alvo fácil. No Brasil, foi assim durante um ano e meio, com o presidente do BC sendo atacado pelo presidente e pelo partido do governo por decisões que eram colegiadas. No próximo ano, o governo vai lidar com um BC que pode tomar medidas que desagradem, mas será formado por maioria de indicados do atual grupo político.
Campos Neto encontrou o presidente do Fed, Jerome Powell, numa época em que ele estava sendo pressionado pelo então presidente Donald Trump que o indicara para o cargo. Campos Neto disse: “sou solidário a você”. Powell agradeceu. Anos depois, o brasileiro estava sob críticas e, num encontro, Powell disse: “sou solidário a você”.
— Os banqueiros centrais acabam entendendo a forma de operar e entendem que é importante a liberdade de trabalhar. Acho que isso é bem amadurecido — me contou Campos Neto durante a entrevista.
Ele defendeu a ideia de que o Brasil passa agora por um “teste de autonomia”. Quis saber mais sobre esse “teste".
— A autonomia é nova, é a primeira mudança de governo, é natural que isso aconteça.
E contou uma conversa que teve com o presidente do Banco Central do Peru, Julio Velarde, que está há 17 anos no cargo.
– Eu disse: "o Banco Central do Peru tem uma institucionalidade forte porque balança, balança e você está aí". Ele respondeu: "mas no primeiro momento, tem um teste difícil, depois vai amadurecendo na sociedade que Banco Central independente é bom porque reduz as volatilidades no ciclo". A gente está no primeiro teste. Acho que a sociedade vai entender, vai defender o Banco Central independente.
Nem o mercado é uma entidade monolítica. Foi essa diferença que ele quis mostrar ao dizer que os economistas não estão prevendo alta de juros para este ano, mas o mercado aposta na alta. Pedi que me explicasse essa divisão das projeções da Selic.
— Eu peguei o relatório de hoje (segunda-feira) no Focus ainda não tem. Mas o mercado tem. O mercado sempre trabalha com um pouquinho de prêmio. O mercado precificou um pouco mais a credibilidade do Banco Central. Mas a gente tem dito que olha várias variáveis, não olha só o mercado.
O Banco Central é mais do que os preços do mercado ou as disputas políticas. Há mudanças que afetam diretamente a vida das pessoas. Perguntei que outras novidades viriam no Pix.
— Gostaria de entregar o Pix automático, em que todas aquelas contas mensais possam ter o pagamento programado. Outra é o pagamento por aproximação. Como será possível colocar o Pix no Wallet do Google Pay ou do Apple Pay pode-se fazer este pagamento por aproximação. Como o Pix é programável, a gente está juntando o sistema Pix com o Open Finance e vai ter uma parte que vai juntar com a moeda digital. A gente pode fazer muita coisa no futuro em contratos inteligentes.
Enfim, o Banco Central está na vida do país, mexe com preços, nervos e rotinas. Será bom se o país amadurecer para entender que o Banco Central independente é parte da manutenção da inflação baixa, conquistada há 30 anos.
Fonte: O GLOBO
Ontem mesmo saiu o dado de revisão anual do indicador mais importante do mercado de trabalho americano, o “payroll”. Foi feita uma revisão de 800 mil empregos para baixo. Ou seja, foram criados menos 800 mil empregos do que se pensava. O enorme ajuste eleva a aposta na queda de juros nos Estados Unidos em setembro. No Brasil, a utilização da capacidade instalada da indústria está no nível mais alto em uma década. Os números se movem e a decisão de juros será daqui a quase um mês.
A vida de Banco Central é ficar entre fogos. Da política ou do mercado. Operadores esquadrinham cada palavra para fazer suas posições e preços. Políticos acham um alvo fácil. No Brasil, foi assim durante um ano e meio, com o presidente do BC sendo atacado pelo presidente e pelo partido do governo por decisões que eram colegiadas. No próximo ano, o governo vai lidar com um BC que pode tomar medidas que desagradem, mas será formado por maioria de indicados do atual grupo político.
Campos Neto encontrou o presidente do Fed, Jerome Powell, numa época em que ele estava sendo pressionado pelo então presidente Donald Trump que o indicara para o cargo. Campos Neto disse: “sou solidário a você”. Powell agradeceu. Anos depois, o brasileiro estava sob críticas e, num encontro, Powell disse: “sou solidário a você”.
— Os banqueiros centrais acabam entendendo a forma de operar e entendem que é importante a liberdade de trabalhar. Acho que isso é bem amadurecido — me contou Campos Neto durante a entrevista.
Ele defendeu a ideia de que o Brasil passa agora por um “teste de autonomia”. Quis saber mais sobre esse “teste".
— A autonomia é nova, é a primeira mudança de governo, é natural que isso aconteça.
E contou uma conversa que teve com o presidente do Banco Central do Peru, Julio Velarde, que está há 17 anos no cargo.
– Eu disse: "o Banco Central do Peru tem uma institucionalidade forte porque balança, balança e você está aí". Ele respondeu: "mas no primeiro momento, tem um teste difícil, depois vai amadurecendo na sociedade que Banco Central independente é bom porque reduz as volatilidades no ciclo". A gente está no primeiro teste. Acho que a sociedade vai entender, vai defender o Banco Central independente.
Nem o mercado é uma entidade monolítica. Foi essa diferença que ele quis mostrar ao dizer que os economistas não estão prevendo alta de juros para este ano, mas o mercado aposta na alta. Pedi que me explicasse essa divisão das projeções da Selic.
— Eu peguei o relatório de hoje (segunda-feira) no Focus ainda não tem. Mas o mercado tem. O mercado sempre trabalha com um pouquinho de prêmio. O mercado precificou um pouco mais a credibilidade do Banco Central. Mas a gente tem dito que olha várias variáveis, não olha só o mercado.
O Banco Central é mais do que os preços do mercado ou as disputas políticas. Há mudanças que afetam diretamente a vida das pessoas. Perguntei que outras novidades viriam no Pix.
— Gostaria de entregar o Pix automático, em que todas aquelas contas mensais possam ter o pagamento programado. Outra é o pagamento por aproximação. Como será possível colocar o Pix no Wallet do Google Pay ou do Apple Pay pode-se fazer este pagamento por aproximação. Como o Pix é programável, a gente está juntando o sistema Pix com o Open Finance e vai ter uma parte que vai juntar com a moeda digital. A gente pode fazer muita coisa no futuro em contratos inteligentes.
Enfim, o Banco Central está na vida do país, mexe com preços, nervos e rotinas. Será bom se o país amadurecer para entender que o Banco Central independente é parte da manutenção da inflação baixa, conquistada há 30 anos.
Fonte: O GLOBO
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