Juliano Varela (à esquerda) e Marcio Ximenes (à direita) concorrem à vaga coletiva na Câmara Municipal de Campo Grande — Foto: Miguel Palacios
Juliano e Márcio se juntam aos outros candidatos pelo país que declararam ter algum tipo de deficiência. Neste ano, 4.959 candidatos declararam se enquadrar neste quesito. O número representa uma queda em relação a 2020, quando 6.657 candidatos afirmaram a condição.
Juliano e Marcio são filiados ao PSD e o mandato coletivo foi decidido apenas no último dia 15. Eles apontam o fato de não ter feito uma pré-campanha como principal desafio.
— O nosso desafio é que chegamos agora. Eu já queria uma oportunidade dessa há muito tempo, mas não tinha uma possibilidade. Eu acredito que vamos poder contribuir muito, principalmente com a força que tem o nome do Juliano. Ele vai ser os olhos e eu vou ser a mente — contou Marcio ao GLOBO.
Marcio parou de enxergar enquanto ainda era criança, após cair de um cavalo enquanto tentava pegar mangas com a irmã, no inteiro do estado. Aos 14 anos, entrou no Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos Florivaldo Vargas (Ismac), onde aprendeu braile e passou por toda a reabilitação necessário.
Formado em pedagogia, Márcio tem uma filha e atuou como professor e gestor do Instituto até o último dia 15, quando resolveu abraçar o novo sonho.
— Eu falo que se a cidade for boa para a pessoa com deficiência ela vai ser excelente para o restante da população — afirma o professor.
Se para Márcio não houve dúvida quando o convite o chegou, Juliano, que será titular da chapa, precisou de um tempinho para bater o martelo e dizer sim para a candidatura.
Inicialmente, a proposta era para que Juliano concorresse sozinho como vereador, o que trouxe insegurança para sua mãe, Maria Lúcia Fernandes.
— Me deu insegurança pela dificuldade dele em elaborar em expressar os seus pensamentos. Eu tinha medo que ele não conseguisse transmitir direito as mensagens que gostaria — explicou Malu ao falar sobre a dificuldade de oratória do filho — Quando o Marcio chegou para o mandato coletivo essa insegurança foi embora e hoje eu estou com o coração cheio de alegria.
Juliano é chef de cozinha autônomo e vende seus produtos em um trailer. Pão, chocotone, penetone, bolo, brownie, salgadinhos, o cardápio oferecido por Juliano aos seus clientes é amplo. Além disso, o candidato participa de uma banda formada por pessoas autistas e com síndrome de Down.
— A minha vida é totalmente independente da do Juliano. Ele pega avião sozinho, ele tem autonomia, namora, vive a vida dele por conta própria porque ele está incluído na sociedade. Ele passou por todos o desenvolvimento que permitiu que ele conseguisse isso.
Juliano emprestou o seu nome para uma fundação destinada a promover o pleno desenvolvimento de pessoas com deficiência, fundada em 1994. Hoje, a fundação atende mais de 500 pessoas com síndrome de Down, com programas específicos por faixa etária, com atenção médica especial e todos os estímulos que são necessários.
— O Juliano ia para a escola, tinha a socialização dele, e depois ia para a fundação e recebia todas as especificidades que ele precisava pela deficiência. Ele tinha aula de música, de capoeira, e várias outras — explica Malu, completando: — Precisamos incluir as pessoas, mas precisamos oferecer o que elas precisam para ter as mesmas oportunidades. Tenho que fazer a inclusão de verdade, com respeito e oferecendo o que elas precisam para se sentirem iguais.
A síndrome de Down é condição causada pela presença de três cromossomos 21 (ao invés de dois). Isso ocorre na hora da concepção, de forma aleatória.
A trissomia do cromossomo 21 pode ser observada em características físicas, como olhos oblíquos, rosto arredondado, mãos menores. Ela também afeta o desenvolvimento cerebral — é considerada a principal condição genética que leva à incapacidade intelectual —, reduz a força e do tônus muscular (condição chamada hipotonia) e pode comprometer a visão, audição e coração.
Fonte: O GLOBO
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