Na São Martinho, outra grande produtora, 20 mil hectares foram afetados. Setor tem experiência em moer cana queimada, e não é possível estimar ainda efeito total. Mas preços do açúcar sobem no mercado internacional

Em imagem feita por drone, queimadas em canavial próximo a Sertãozinho, no interior de São Paulo — Foto: Joel Silva/Fotoarena/Agência O Globo

Porto Velho, Rondônia - As queimadas em São Paulo, que afetaram as plantações de grandes produtores de cana, fizeram as cotações do açúcar subirem no mercado internacional e devem afetar a oferta global do produto, preveem analistas.

A Raízen, maior exportadora de açúcar do mundo, informou na manhã desta terça-feira que 1,8 milhão de toneladas, ou 2% de sua safra prevista para 2024/205, foram afetadas pelos incêndios, considerando o impacto que o fogo teve na sua produção e na de fornecedores sobre o total previsto de moagem para o período.

A São Martinho, outra grande produtora que tem ações em Bolsa, informou que aproximadamente 20 mil hectares de suas plantações foram atingidos pelos incêndios e, com isso, haverá uma redução de 110 mil toneladas na produção de açúcar prevista, com um aumento porém no processamento de etanol.

Apesar de as duas gigantes do setor terem informado ao mercado prejuízos pequenos, analistas estimam que, para o setor, o impacto dos incêndios de agora será bem maior do que o da grande geada de 2021, quando houve perdas significativas na produção brasileira de cana-de-açúcar. Na segunda-feira, as cotações futuras de açúcar bruto negociadas na Bolsa de Nova York subiram até 4,2% por causa da crise climática no Brasil.

-O escopo dos problemas agora é muito maior – disse Mauro Virgino, líder de inteligência comercial da trading de açúcar Alvean. - Os incêndios de 2024 são como as geadas de 2021, mas com esteroides – avalia.

O impacto pode durar até o próximo ano, uma vez que os incêndios afetaram a cana que estava brotando. Nestes casos, o calor danifica severamente as raízes da planta, o que significa que os produtores, provavelmente, terão de replantar ou enfrentar uma colheita menor na próxima temporada.

Até 60 mil hectares de área de cultivo foram afetados, estima a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana).

-Em 20 anos de atividade, nunca vi nada parecido- disse Almir Torcato, diretor executivo da associação de produtores de cana Canoeste.

O grupo reúne mais de 2 mil produtores em algumas das áreas mais afetadas nos municípios de Sertãozinho e Bebedouro.

- Recebemos inúmeros pedidos de ajuda – relata Torcato.

Os focos de incêndio aumentaram as preocupações do setor com a próxima safra, já afetada pela seca e o calor extremo deste ano. Até 5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar podem ter sido perdidas em São Paulo devido ao fogo, preveem duas estimativas preliminares da Green Pool Commodity Specialists e da empresa de serviços financeiros FG/A. As estimativas iniciais usaram imagens de satélite, mas com possibilidade de imprecisões. Ainda assim, elas representam cerca de 1,4% da cana no Estado de São Paulo.

Os impactos na produção total de açúcar não foram estimados, pois parte da cana-de-açúcar queimada ainda pode estar em condições boas o suficiente para ser processada.

Os usineiros do Brasil têm experiência em moer cana queimada devido à prática histórica, hoje abandonada, de atear fogo na plantação como parte do processo de produção. Com novas tecnologias, o uso do fogo foi deixado de lado, mas o setor tem a experiência de aproveitar cana queimada na moagem.

Mas, ainda assim, a produtividade da indústria será afetada, uma vez que muitas empresas carecem de recursos neste momento, já que ainda estão lidando com as consequências dos incêndios.


Fonte: O GLOBO