O empresário Pablo Marçal (PRTB), candidato a prefeito de São Paulo. — Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo
Porto Velho, Rondônia - O empresário Pablo Marçal, candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, é alvo de 57% das ações protocoladas no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP) na capital paulista desde 6 de agosto, quando terminaram as convenções partidárias. O ex-coach foi acusado em 32 de um total de 56 processos iniciados no período.
O número de 2024 é mais que o dobro de ações registradas em 2020, quando o total de processos no período eleitoral foi de 24. As eleições naquele ano ocorreram entre outubro e novembro, por causa da pandemia de Covid-19.
Das ações protocoladas contra o influenciador digital, 29 estão relacionadas à veiculação irregular de propaganda eleitoral, que podem levar a multas e suspensão da publicidade. Se as determinações não forem obedecidas, a conta do acusado nas redes sociais, por exemplo, pode ser suspensa.
Dessas ações, três foram arquivadas, e haviam sido protocoladas pelo candidato Guilherme Boulos (PSOL), pedindo direito de resposta nas redes.
Outras três ações contra Marçal são de investigação eleitoral judicial (AIJE). Elas apuram abuso de poder político, econômico, dos meios de comunicação e podem gerar suspensão do registro de candidatura, cassação de mandato e inelegibilidade.
Duas AIJEs, protocoladas pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) após representação do PSB, e pela bancada feminina do PSOL na Câmara dos Vereadores, miram a tática de Marçal de turbinar a própria audiência nas redes por meio de promessas de ganhos financeiros para os apoiadores. A prática foi revelada pelo GLOBO.
A campanha de Marçal admite que o candidato tem pela frente duas disputas, uma eleitoral e outra jurídica. Um auxiliar diz que a equipe está atenta, sobretudo, aos desdobramentos da ação que trata de abuso de poder econômico e que motivou abertura de inquérito a pedido do MPE.
No domingo, Boulos e a candidata do PSB, Tabata Amaral, fizeram novas investidas contra o ex-coach. Tabata acusa o empresário de enviar e-mails em massa divulgando suas redes sem dar transparência sobre de qual banco de dados os e-mails dos eleitores teriam sido retirados.
A suspeita é de que os endereços teriam sido obtidos por meio de cadastros em atividades comerciais de Marçal. O e-mail do ex-coach, mostra a representação postada por Tabata, enumera os perfis do candidato do PRTB junto à frase: “Cai pra dentro dos links e me segue nos novos perfis”.
A estratégia teria sido adotada para divulgar as suas contas reservas no Instagram, TikTok e Telegram, pouco antes de a Justiça Eleitoral derrubar os seus perfis originais em meio a suspeitas de abuso de poder econômico com os chamados “campeonatos de cortes (de vídeos)”.
Segundo o documento, houve relatos de pessoas que nunca deram consentimento para esse tipo de abordagem e que apenas tinham se relacionado com o empresário através da compra de produtos, cursos e mentorias.
“O candidato serve-se da estrutura de suas empresas para fazer bombar suas novas redes sociais, sendo essa ‘uma conduta vedada’”, aponta a representação.
— Vou apurar isso aí. Eu não dei essa autorização e não concordo com isso. Se tiver acontecido, terá o desligamento sumário de quem fez. Pode me cobrar — disse o candidato do PRTB em agenda ontem.
Expulso de resort
Já Boulos divulgou um documento que mostra que um funcionário, pai de três crianças (sendo um recém-nascido), foi expulso de um resort onde trabalhava e que esse endereço era ligado a Marçal. O candidato do PSOL resgatou uma condenação trabalhista envolvendo a Resort Digital, em Porto Feliz (SP), que pertence à Marçal Holding. O assunto está sendo usado pelo psolista para rebater os “memes” de Marçal com a carteira de trabalho. No debate Estadão/Faap, o empresário “exorcizou” Boulos com o objeto, que depois virou uma marca nas agendas de rua.
O Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região condenou a empresa a indenizar o funcionário em cerca de R$ 70 mil por ter se negado a assinar a carteira de trabalho, exigindo que o empregado emitisse notas de pessoa jurídica (PJ) mesmo com vínculo trabalhista, e por ter expulsado a sua família à noite, sem aviso prévio. Eles moravam no estabelecimento e não tinham outro local para ficar na cidade. O GLOBO teve acesso aos autos.
O candidato do PSDB, José Luiz Datena, também acusou Marçal de promover venda de produtos em suas campanhas de rua e anúncios na internet, o que é vedado pela lei eleitoral. Os anúncios, de acordo com a campanha de Datena, estariam sendo impulsionados no Google. O tucano pede investigação para checar se o lucro estaria abastecendo, de alguma forma, a campanha do ex-coach.
O GLOBO flagrou venda de bonés, a R$ 60, em agenda de Marçal no bairro do Ibirapuera, na tarde de ontem. Grupos de WhatsApp que reúnem apoiadores e membros da campanha também divulgam a venda dos materiais.
Fonte: O GLOBO
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